Como fazer consórcio de sorgo com brachiaria ou panicum

Atualmente, a integração de diferentes atividades na propriedade rural tem se tornado uma ferramenta fundamental para a agricultura. Nesse cenário, o consórcio de sorgo com forrageiras tropicais vem sendo uma técnica de cultivo bastante promissora.

Quando bem realizado, esse sistema permite a produção de grãos e forragem com boa produtividade. Essa tendência tecnológica busca ainda aprimorar os benefícios para o solo, para as plantas e para os animais.

Mas como fazer o correto consórcio do sorgo com brachiaria ou panicum e quais são os manejos que exigem maior atenção para que isso traga os resultados esperados?

 

Diversificação na fazenda. Por que optar pelo sorgo no consórcio?

 

 

A integração lavoura-pecuária (ILP) é uma estratégia de produção que tem se tornado uma opção bastante benéfica na recuperação de pastagens degradadas em diversas regiões do Brasil.

 

Quando compartilhamos duas atividades de importância econômica, teremos ganhos recíprocos, além da possibilidade de conquistar melhores aspectos ambientais quando comparados aos monocultivos.

 

Nesse consórcio, o sorgo apresenta características morfológicas e fisiológicas excelentes para uso em consórcios, tais como:

  • Ciclo vegetativo de 100 dias.
  • É uma gramínea forrageira anual de estação quente.
  • Sensível a fotoperíodo: dia curto.
  • Altura máxima da planta varia entre 2 m a 3 m.
  • Resistente à seca e tolerante à geada.
  • Se adapta bem em solos de média fertilidade e arenosos.
  • Produtividade média de 3 a 8 t/ha/ano MS.

Estratégias de manejo para uso do consórcio de sorgo com forrageiras tropicais

 

Mesmo sendo bastante vantajoso ao agronegócio, o consórcio de sorgo com forrageiras tropicais exige alguns conhecimentos específicos sobre os principais manejos adotados: 

 

Espaçamento de plantio

 

 

O espaçamento irá depender dos implementos que o produtor já possui, o mais usual é 0,5 m (no consórcio de sorgo com forrageiras)

Em espaçamentos menores que 0,40 m do sorgo, a estratégia ideal seria utilizar a terceira caixa para plantio simultâneo ou uma semeadora acoplada na frente do trator. Em espaçamentos maiores, podem ser adicionadas linhas extras da forrageira perene nas entrelinhas do sorgo.

Em áreas onde o cultivo é mecanizado ou onde é realizada capina manual, a semeadura pode ser realizada junto com essas práticas, para favorecer a incorporação das sementes.

 

 

Taxa de semeadura

 

 

No consórcio de sorgo com forrageiras tropicais, a taxa de semeadura das forrageiras varia conforme a espécie, Gontijo Neto et al. (2006) indicam:

  • 3,0 a 3,5 kg/ha de sementes puras viáveis (SPV) para semeadura no sulco.
  • 4,2 a 6,0 kg/ha de SPV para semeadura a lanço.

Para uso da pastagem para período maior do que a entressafra, são indicadas taxas de semeadura mais elevadas para as forrageiras perenes, de maneira a favorecer o estabelecimento e a persistência da pastagem.

Para colheita de grãos, recomenda-se o plantio 30 dias após a emergência das plântulas de sorgo, diminuindo problemas de competição, pois não há herbicidas indicados para o controle da forrageira, como é feito com milho.

 

 

Controle de daninhas

 

 

 

Pode ser feito com herbicidas à base de atrazine, em pós-emergência, quando as plantas estiverem no estágio de duas a quatro folhas.

Atenção na aplicação, para que esses produtos não afetem as forrageiras. Também é importante realizar o controle prévio das invasoras, para reduzir a infestação no consórcio de sorgo com forrageiras.

O controle cultural pode ser benéfico, com aumento na densidade de semeadura do sorgo, e/ou das outras forrageiras associadas, aliado ao manejo adequado.

Em geral, no consórcio de sorgo com brachiaria, a competição com a forrageira não reduz significativamente a produtividade da cultura. Como a brachiaria diminui a infestação de plantas daninhas, há, inclusive, tendência de aumento da produtividade dessa cultura, provavelmente devido a não aplicação de herbicida em pós-emergência, reduzindo possíveis efeitos fitotóxicos.

Mesmo nas poucas situações em que houve redução da produtividade, essa redução, do ponto de vista econômico, foi compensada pela economia da não aplicação do herbicida pós-emergente, ou na reforma da pastagem

A competição com a braquiária é minimizada quanto maior for a fertilidade do solo, pois, nesta condição, a tendência é que ocorra maior desenvolvimento do sorgo.

 

 

 

Colheita (grão ou silagem)

 

 

 

A colheita dos grãos é feita quando estes apresentarem um teor de umidade entre 14% e 17% e a colheita para silagem quando as plantas apresentarem entre 30% e 35% de matéria seca.

Vale ressaltar que a utilização do sorgo para pastejo pode ocorrer em sistema contínuo ou rotacionado. O sistema rotacionado proporciona melhores desempenhos quando comparado ao contínuo, em produtividade de carne por hectare e em longevidade da pastagem, devido ao fato de favorecer a rebrotação das plantas forrageiras, proporcionando uma melhor cobertura do solo.

A forragem apresenta bom valor nutritivo e boa palatabilidade, entretanto, alguns materiais podem apresentar toxicidade aos animais, pela presença de glicosídeo cianogênico, quando pastejados nas fases iniciais de crescimento ou logo após a rebrotação.

Quanto à entrada dos animais, é recomendável que estes entrem para pastejo quando as plantas atingirem altura entre 0,70 e 0,80 m do solo, saindo quando houver rebaixamento para 0,20 a 0,30 m.

Deve-se dar um período de descanso de 18 a 24 dias após o pastejo inicial, de acordo com as condições edafoclimáticas do local.

Para o início do pastejo, deve-se utilizar uma maior taxa de lotação, reduzindo-a gradualmente em função da disponibilidade de forragem. Os restos culturais das áreas de colheita de grãos, bem como as rebrotas dessas áreas e de áreas destinadas à produção de silagem, também podem ser utilizados para pastejo como estratégias de fornecimento de forragem na propriedade.

A dessecação do sorgo, como planta de cobertura de solo, ou de seus restos culturais, pode ser realizada com os herbicidas glifosato ou paraquat, nas dosagens de 3,0 L/ha e de 2,0 L/ha, respectivamente.

Em cultivos consorciados com uso da forragem somente na entressafra da soja, após o último corte ou pastejo, deve-se observar um período de 15 a 20 dias para rebrota e posterior dessecação.

A condição adequada da palhada para plantio direto, após a dessecação, depende do tipo de capim em consórcio, sendo que com os capins Ruziziensis e Aruana a palhada atinge essa condição em 10 a 15 dias, já com os capins Tanzânia, Xaraés, Piatã e Marandu, de 20 a 30 dias (Machado et al., 2011a).

 

Quintino et al. (2013), citado por Neto et al. (2018), avaliando o potencial de produção de forragem do sorgo pastejo BRS801 solteiro e consorciado com a B. brizantha cv Piatã, mais o capim piatã solteiro, implantada ao final do período chuvoso e colhido aos 70, 90 e 110 dias após a semeadura, concluíram que a consorciação de sorgo pastejo e piatã foi vantajosa para a produção de forragem (Tabela Abaixo).

 

 

Tabela Soep

 

 

Considerações Finais

 

 

O consórcio de sorgo com forrageiras tropicais é uma estratégia cada vez mais adotada em sistemas de ILP. Essa técnica de cultivo se mostrou viável visando produção de grãos, massa seca (palhada) e proteína bruta (forragem) na entressafra.

A utilização do consórcio de sorgo com forrageiras permite melhorias da fertilidade do solo, permitindo ganhos em produtividade e maior oferta de pasto, além de forragem e grãos para alimentação animal na estação seca.

Nesse sentido, o correto manejo do consórcio será fundamental para manter esse novo patamar de produtividade.

 

 

Referências Bibliográficas

 

 

  • Neto et al. Milho e sorgo culturas estratégicas para arranjos produtivos em ILPF. 2018.
  • Horvathy NA, Silva AG, Teixeira IR, Simon GA, Assis RL, Rocha VS (2012). Consórcio sorgo e braquiária para produção de grãos e biomassa na entressafra. Rev. Bras. Milho Sorgo 7(1):743-749.
  • SILVA, A. G. et al. Consórcio sorgo e braquiária na entrelinha para produção de grãos, forragem e palhada na entressafra. Revista Ceres, v. 61, n. 5, p. 697-705, 2014b.