Saiba mais sobre a resistência à cigarrinha da Brachiaria Ipyporã

A Brachiaria Ipyporã vem sendo bastante utilizada para formação de pastagens, principalmente por apresentar resistência à cigarrinha

 

Estudos verificaram que a cultivar apresenta resistência do tipo antibiose, ou seja, a Ipyporã caracteriza-se por não ser uma boa planta hospedeira para a praga, pois cria um ambiente repelente e tóxico.

 

Porém, alguns pecuaristas estão relatando casos onde este gênero vem sofrendo com o ataque de ninfas e cigarrinhas. A razão mais plausível para explicar esse ataque é a presença de plantas suscetíveis no meio da Ipyporã. Por isso, tomar alguns cuidados torna-se imprescindível.

 

Saiba então por que estão sendo relatados casos de ataque da cigarrinha e veja quais são os cuidados que todo pecuarista deve ter para que as cigarrinhas fiquem longe das pastagens de Ipyporã.

 

Características da Brachiaria Ipyporã

 

A Brachiaria BRS Ipyporã é uma planta que apresenta boa produtividade e manejo relativamente fácil, como a cv. Marandu, porém com elevado grau de resistência à cigarrinha, típica das pastagens de braquiária no Brasil.

 

Esta planta apresenta ainda colmos curtos e delgados, com alta pilosidade nas bainhas. Suas folhas são lanceoladas e eretas, muito pilosas nas duas faces. 

 

A Ipyporã apresenta inflorescências curtas, com 4 a 5 racemos, estigmas roxos e espiguetas unisseriadas, com pilosidade ausente ou muito pouca.

 

Este híbrido foi selecionado com base na produtividade, no vigor, na alta qualidade, na adaptação a solos de cerrados, porém mais exigente em fertilidade e, principalmente, no excelente comportamento frente às cigarrinhas.

 

Antibiose da Ipyporã e a resistência à cigarrinha

 

Por definição, antibiose é um mecanismo de resistência caracterizado pela ação adversa, exercida pela planta hospedeira sobre a biologia (desenvolvimento) do inseto/praga. 

 

De maneira geral, a planta resistente por antibiose tem como característica afetar o potencial de reprodução da praga (reduzindo seus níveis populacionais).

 

Os efeitos mais comuns verificados quando um inseto se alimenta de uma planta resistente por antibiose são:

 

  • Morte das formas jovens da praga.
  • Redução no tamanho e no peso dos insetos.
  • Período de vida anormal do inseto/praga (desenvolvimento prolongado).
  • Morte na transformação para adultos.
  • Fecundidade reduzida.

 

A Brachiaria Híbrida BRS Ipyporã foi melhorada e apresenta esse tipo de reação com a praga. Isso é provado em muitos estudos, com esse gênero apresentando alto grau de resistência à cigarrinha por antibiose.

 

Por que a Ipyporã não apresenta completa resistência à cigarrinha?

 

Apesar da alta resistência, alguns produtores têm constatado a presença de ninfas e cigarrinhas em suas lavouras de Ipyporã, sendo esse ataque motivo de grande preocupação.

 

Diante dessa informação, é preciso salientar que essa planta não é totalmente imune às cigarrinhas, ou seja, a presença de ninfas e de adultos de cigarrinhas nessa gramínea deve ser considerada normal, porém, essa população deve ocorrer em níveis mais baixos e não causar danos econômicos à cultura.

 

Dessa forma, o produtor precisa estar ciente que o ataque da cigarrinha pode ter relação com o manejo adotado ou estágio fisiológico da planta. Há dois exemplos nesse sentido: o primeiro ocorre quando o pastejo é muito excessivo, sem tempo de descanso. Já o segundo ocorre quando há alguma deficiência de nutrientes na planta.

 

Ambos fatores afetam o sistema fisiológico da planta e a deixam mais debilitada, fazendo com que ela se torne mais suscetível ao ataque das cigarrinhas.

 

Também vale citar que, na interação inseto-planta, o dano ocasionado pelo adulto da cigarrinha está relacionado a um outro mecanismo de resistência: a resistência por tolerância.

 

A tolerância é um mecanismo de resistência caracterizado pela ação do inseto sobre a planta. Em outras palavras, pode-se dizer que, em uma área que tenha muita cigarrinha, alguns insetos adultos poderão atacar a planta, entretanto, o dano será menor quando comparado a outras cultivares. Porém, a Ipyporã pode perder seu potencial de resistência com o surgimento de alguma cigarrinha “nova” (de outra espécie) na área.

 

Para tornar essa explicação mais simples, vale usar o exemplo do capim Marandu.

 

O capim Marandu é um cultivar de brachiaria resistente à cigarrinha-das-pastagens (Zulia entreriana e Deois flavopicta), sendo essas as únicas cigarrinhas que atacavam pastagens. Porém, certo tempo depois surgiu mais uma espécie de cigarrinha, a Mahanarva spp.(cigarrinha da cana-de-açúcar), para o qual o Marandu não tinha resistência.

 

Essa espécie de cigarrinha conseguiu atacar o Marandu, que deixou de ser resistente a todas as cigarrinhas. Fato semelhante pode acontecer também com a Ipyporã, onde a seleção de uma nova espécie pode fazer com que essa planta seja atacada.

 

Dessa forma, se na área onde for estabelecido o híbrido Ipyporã houver mistura com outras gramíneas suscetíveis, ou se houver gramíneas suscetíveis nas áreas adjacentes, ou se ainda houver uma nova espécie de cigarrinha na área, haverá, sim, a possibilidade de cigarrinhas infestarem e, ocasionalmente, causarem danos à Brachiaria BRS Ipyporã.

 

Como evitar infestação por cigarrinhas na Brachiaria Ipyporã?

 

Como vimos, é constatado um alto grau de resistência por antibiose na Brachiaria Ipyporã, permitindo antecipar baixos níveis populacionais e danos nas áreas estabelecidas com essa gramínea.

 

Porém, a resistência por tolerância à cigarrinha da Ipyporã é média, ou seja, em se constatando altas infestações, a planta poderá ser atacada. Por isso, deve-se considerar alguns pontos:

 

  • Priorize a qualidade da semente utilizada para que não tenha contaminação de gramíneas suscetíveis a cigarrinha.
  • Conheça o histórico da área, tendo em vista a possibilidade de o plantio ter sido feito em área antes utilizada com gramíneas suscetíveis. Certifique-se que a planta anterior foi devidamente eliminada.

 

Neste segundo caso, a presença de gramíneas suscetíveis, oriundas do banco de sementes, possibilitará o abrigo e o desenvolvimento de ninfas, com a consequente emergência das cigarrinhas adultas.

 

Isso ocorrendo, esses adultos se alimentarão também das folhas da Brachiaria Ipyporã e, dependendo do nível de infestação desses adultos, será possível constatar danos em suas folhas.

 

Uma opção é a rotação de culturas, plantio de uma planta anual para quebrar o ciclo da cigarrinha e depois voltar com a gramínea, assim são melhor eliminadas as plantas da forrageira suscetível que estava na área.

 

Assim, pode-se concluir que esse capim híbrido apresenta excelente resistência à cigarrinha, além de apresentar excelente valor nutritivo. Porém, alguns cuidados devem ser tomados para que haja o devido controle da praga na área.